quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Paranóia e Metanóia, a paródia da parábola.




Paranóia e Metanóia eram galinhas gêmeas, muito estabanadas, porém muito competentes no gerenciamento do galinheiro.





Tudo ficava por conta delas:
*a supervisão da construçãos dos ninhos
*a organização dos banhos de areia
*a escala das chocas
*o racionamento da quirela
*a temperatura da chocadeira
*etc...etc...etc...

Enfim, era muito trabalho!!

Como se não bastasse, a galinhada fazia alvoroço por todo e qualquer motivo:

*para disputar a atenção do galeto charmoso que ficava de firula pra lá e pra cá,




*pela criançada que se misturava na hora de brincar e depois...
ninguém mais sabia quem era pintinho de quem,








*pela reclamação das chocas que exigiam silêncio para chocarem os ovos em paz





 *Até por causa da gula da velha tia Chiquenita tinha bate-bico




Às vezes, na confusão da correria, as duas irmãs perdiam umas penas, mas no fim dava tudo certo e o galinheiro voltava a ficar em harmonia.

Apesar de gêmeas, Paranóia e Metanóia tinham comportamentos e temperamentos absolutamente diferentes, o que gerava um certo desequilíbrio na tão sonhada ordem.




O funcionamento perfeito do galinheiro era uma questão de vida ou morte para Paranóia, custasse o que custasse tinha que ser mantido.





A disciplina e a produtividade estavam acima de tudo para ela , e qualquer sacrifício valia a pena desde que essas coisas fossem     preservadas.

No fundo, no fundo, ela tinha uma inveja velada das galinhas de raça, que o criador mantinha em puleiros diferenciados, com ração e cuidados especiais.
Ela vazava indignação por todas as penas por ter nascido galinha de terreiro, e sua forma de encobrir isso era trabalhando duro, mostrando serviço, matando se fosse preciso para que o patrão a notasse. 






Já Metanóia, encarava as coisas de maneira um tanto diferente, tentando fazer o melhor para o galinheiro e não para si mesma.
Demonstrava profunda preocupação quando as chocadeiras estavam desmotivadas e tristes porque sabia que a saúde delas era mais importante para a produção do que propriamente os ovos que conseguiam botar.

Constantemente ouvia Paranóia às cacarejadas com as pobres penosas, exigindo mais e mais ovos, numa pressão faraônica.

Em momentos como esse Metanóia vinha com seu jeitinho discreto e ficava olhando para a irmã, na expectativa de que ela se acalmasse e percebesse o estrago que estava causando.

Aí é que Paranóia fervia ainda mais de raiva, talvez por estar sendo criticada intrínsecamente, talvez por não conseguir ser como Metanóia.

Ia baixando o tom do cacarejo aos poucos, ajeitando a postura e, de papo erguido, saía, fincando as unhas na terra.

Fazia-se um breve silêncio e lá vinha a balbúrdia:
-Pocóóóóóó..pocococóooooo.....po-po-po-cóóóóóóó!!!!!!!!!!

Todas cacarejavam ao mesmo tempo,  umas reclamando e outras choramingando, com ares de valentia por trás da carcaça de Paranóia:


-Vingança é uma quirela que se come fria...pocóóóóóó...
-diziam simulando um tom de ameaça.






Metanóia pedia calma e aproveitava o momento para lhes contar histórias de perdão e misericórdia.
E assim as chocadeiras iam se aquietando, até que acabavam se aninhando para dar continuidade no trabalho. 





Quando ia se empoleirar para o sono, ela ficava pensativa por saber que nada estava resolvido de fato, e que no dia seguinte aconteceria tudo outra e outra vez.

Na manhã seguinte, bem cedinho, Paranóia acordou a irmã aos gritos, batendo asas e bicando.


-Vamos, preguiçosa, acorde! O criador quer falar conosco, ele está de malas prontas, rápido,rápidooooooooo.

E lá foram as duas ao terreiro, Metanóia ainda tonta de sono.




-Pois bem, minhas galinhas fiéis e prudentes, vamos conversar. Paranóia, bom dia!





Quando o criador falou seu nome, Paranóia estufou tanto o peito que mais parecia um pombo correio à ponto de implodir e, se tivesse dentes, teria mostrado até o terceiro molar tamanho o sorriso que escancarou.

-E você, Metanóia, bom dia!

-Bom dia, senhor criador. -respondeu 


Formalidades terminadas, amenidades em dia, ele prosseguiu:

-Estou indo viajar para uma terra muito distante e não sei quanto tempo vou demorar. Talvez eu me ausente por dias, talvez por meses, mas vou na certeza de que vocês continuarão conduzindo o galinheiro muito bem.
  Quando eu retornar quero encontrar as aves fortes e o galinheiro em harmonia, pois vou trazer compradores importantes.

Paranóia deu logo um passo à frente, querendo ser a primeira a responder:

-Ora, meu senhor, conheces bem o meu trabalho e sabes que podes viajar sossegado. Nenhum dia na minha vida eu fui comer minha ração sem que antes tivesse servido as primas. Conheces também minha capacidade de organização e minha paciência com os pintinhos e...blá...blá...blá...

À medida que ela desfiava a conversa enaltecendo a si mesma, Metanóia pensava se o criador não percebia a presunção daquelas palavras.

Elas eram uma equipe, faziam tudo juntas, se completavam, e Paranóia só ficava em torno da "Eu"quipe.


-Bem, eu já vou indo. Se cuidem e cuidem do meu galinheiro, pois confio nas duas.


Mesmo sem olhar para a irmã, Metanóia previa a cara retorcida da outra, na insatisfação de não ter sido escolhida como única gerente pelo criador.


A notícia se espalhou rapidamente e houve agitação em todos os puleiros do condomínio galinhal. 
Um certo pânico tomou conta das aves e até na roda dos galos haviam comentários:



-Hummm...deixa aquela ranzinza da Paranóia comigo que eu dou um jeito nela. Umas boas bicadas e ela fica mansinha, mansinha.




-Bicadas nada, ela precisa é de um pouco de carinho. Nisso eu sou bom!






-Nem bicada, nem carinho, a gente leva ela para a cozinheira e fim de papo.




-Como se tivesse na fazenda alguma panela que desse conta de cozinhar aquela carne de pescoço!!!



E riam...riam não, gargalhavam a valer.



No primeiro dia Paranóia decretou folga...para ELA mesma. 
Disse que estava cansada demais pelo muito que fazia por todos e ficou tomando sol e cochilando, enquanto Metanóia trabalhava pelas duas.



A produção não parava, 
os ovos estouravam a cada segundo, 
tudo tinha que continuar andando, como o criador havia pedido.

 Metanóia continuava a fazer o mesmo de sempre, como se o criador  estivesse por ali.
   

Em contrapartida, Paranóia ia mudando cada vez mais e já não fazia questão de disfarçar o quanto odiava aquele trabalho.
Não ajudava em mais nada e seu interesse agora era ficar no galpão das galinhas de raça.


Perto da Castelhana Negra, das Sedosas do Japão e da Frisada do Oeste ela se sentia mais imponente ainda.





-É...agora eu comando tudo por aqui.-mentia ela. -Minha principal missão é deixá-las mais bonitas e mais gordas enquanto o criador estiver fora, e quando ele voltar, vai me agradecer por ter cuidado bem de vocês.

As pomposas galinhas se olhavam, soberbamente conscientes da ganância de Paranóia.


À noite, quando todos iam dormir, ela modificava o alimento que tinha sido preparado por Metanóia para o dia seguinte.
No lugar da dieta balanceada, feita de duas partes de ração para uma de milho, ela misturava restos da horta de alface a uma pequena quantidade do milho. 





Resultado: as aves raras estavam cada dia mais fortes e as galinhas do terreiro com uma baita diarréia.





Metanóia ficou desesperada, pois as pobrezinhas começaram a botar ovos chocos e os pintinhos morriam sem explicação.
O viço das penas tinha sumido e a magreza das primas era evidente. 


Paranóia só sabia ficar feito um general, ciscando por todos os lados e olhando com aquele ar altivo.



-O criador precisa voltar logo! -pensava Metanóia no seu íntimo.

-Pocóóóóó!!!


-Ai, você me assustou, Paranóia! A quanto tempo está parada aí?


-Tempo suficiente para saber que você está fracassando. Olhe para o terreiro, um caos! Bem se vê que você é um desastre.

-Paranóia, escute aqui, o criador pediu que trabalhássemos juntas pelo galinheiro e isso não está acontecendo. Você agora só dá atenção para as de raça pura, deixou a simplicidade, não se importa com a  luta que estou tendo com a saúde das primas e ainda as maltrata. Aliás, você esqueceu que nasceu aqui no terreiro e que é galinha como todas nós?


-Pococococóóóóóóóó!!!!!!!!!!

Ela começou a bater as asas e a bicar Metanóia, como se estivesse louca.

-Pois agora você vai ver o que é bom pro papo, Metanóia. Vou assistir a tudo e não vou mover uma pena. 
  Será que você não vê???  O criador está demorando muito para voltar e pode perder as esperanças porque tenho certeza que ele não volta.
  Sabe o que eu vou fazer? Vou é me divertir porque gastei minha vida cuidando desse galinheiro e nunca fui reconhecida.
  Quem sabe o que pode ter acontecido com ele depois de todo esse tempo?
  Talvez tenha morrido, talvez tenha se esquecido, talvez tenha mentido para nós, para nos escravizar nesse trabalho nojento!!!

Depois de ter vomitado toda a sua incredulidade, egoísmo, ganância e ódio, Paranóia virou-se de uma vez para sair, mas seu bico bateu em alguma coisa.



Era marrom, era de couro, eram botas, era o criador!!!!!!!!!

Pálida e repentinamente sem cacarejos, Paranóia ficou petrificada, de olhos arregalados.


Metanóia fechou os olhos, agradecendo pelo retorno do patrão e temendo pelo destino de sua irmã.


-Pocó... -Tentou começar a malvada



-Fique calada e agora me escute. -disse o criador com autoridade  -Já chega das suas mentiras, chegou o dia da prestação de contas e esse dia é hoje.


-M-m-mas, senhor...eu pensei...


-Sim, pensou que eu estava demorando e que não voltaria mais, mas eu disse que não sabia nem o dia, nem a hora da volta. Você foi testada e reprovada na sua conduta. Nunca foi por amor que cuidou do galinheiro, assim como sei que você nunca me amou também. 


-Não, senhor...isso não é verdade.


-Se você me amasse, amaria os primos, mas ao invés disso você amou mais a fama, e ajudou a engordar as galinhas que já estavam gordas.
  Vendo a doença das humildes não se comoveu, vendo o cansaço de Metanóia ainda sorriu, abandonou o galinheiro quando mais precisaram de você!!! 
  Serva má e infiel, vá para o castigo, pois o tempo terminou. 
  Ali haverá cacarejos de angústia e ranger de bicos.







Bem, minhas senhoras e meus senhores, entre as muitas coisas que tenho pensado a respeito da Igreja na terra, pelo menos de uma eu tenho certeza:


SERIA MELHOR SE CADA UM SE PREOCUPASSE 
EM CUIDAR MAIS DA PRÓPRIA VIDA

NO LUGAR DE VIVER APONTANDO 
SETAS E DEDOS PRA TODO LADO.




A destruição de Paranóia começou com:

*seu ego enorme,
*sua falta de amor,
*seu dom inato de puxar tapetes para se sentir mais competente,
*seu desejo de se evidenciar em detrimento do sofrimento da própria irmã,
*seu desprezo pela unidade,
*seu orgulho,
*seu cuidado excessivo com a vida (dos outros, é claro).


Esse é o mal de muitos que se dizem "crentes".
Na ânsia de fazer o certo, agem como tratores e perdem a razão, secundarizam o testemunho, contradizem os princípios que dizem amar.


Eu posso morrer pela verdade, mas não posso matar por ela.

Que se levantem os homens e mulheres de Deus VERDADEIROS e façam alguma coisa, porque de palavrórios e argumentinhos, estamos todos fartos!!!
A graça do Senhor é tão boa e simples, que dá para explicar, mas também tão forte e misteriosa, que é melhor demonstrar como se vive isso.

Mais mastigadinho ainda: se você quer que alguém entenda a diferença de sabores entre uma Lasanha aos 4 queijos e um Testículo de Boi à nordestina, eu, como cozinheira experiente que sou (hehe), aconselho que você prepare a SUA melhor Lasanha e ofereça.

Não adianta ficar falando e falando: 
-"Testículo de boi é ruim , credo, que nojo, tem pratos muito mais gostosos..."(desculpa ae se vc é um apreciador desse negócio estranho)

É melhor falar menos, preparar o prato que você quer que a pessoa experimente e mostrar o que tem de bom.
Ensine o degustador a sentir a textura, a maciez, a cremosidade desse prato gostoso, treine o paladar restrito.
Mostre a delícia da graça, coma dela você mesmo e testemunhe o quanto ela lhe nutre. 
Que tal usarmos menos tempo falando do errado?

Na MINHA, eu disse MINHA visão, é mais ganho:

*ensinar a verdade do que ficar usando todo o tempo para mostrar o que é mentira
*usar púlpito e microfone como oportunidade de salvação e cura, e não como depositário dos seus enjôos

O dia está bem próximo, dá pra sentir e ver.

11 comentários:

Myllena Klein disse...

Nuuoossa! Maravilhosa lição viu, minha amada? Amei o texto! Espero que o Senhor possa te dar sempre essa graça e paciência para conservar seu lar debaixo do Soberano Senhor. Deus te abençoe muitissimo!
Beijos!

Antonio Peres disse...

Muito, muito, muito inteligente.
Eu viajei nesta paródia.
Deus te deu uma linda sensibilidade.
Que bom usar a inteligência para a glória de Deus.
A competição natural que existe no mundo animal podemos entender.
É pena que seres racionais acabam fazendo de suas igrejas verdadeiros "galinheiros".
Minha tendência não é de ficar criticando, mas comportamentos iguais ao da Paranóia sempre provocam feridas muito doloridas.
Creio que existe um tempo para criticar, como disse Salomão: Há tempo pra tudo. Mas, não podemos passar a vida em atitudes de crítica; isto só nos empobrece e ocupa em nosso íntimo o lugar que é do Senhor.
Acho que só este comentário não vai dar, depois eu volto.
Muito jóia!

Alliadoo disse...

Maravilha de texto! Maneiríssima a parábola e edificante suas observações...

D'us te abençõe!

Sônia Massini disse...

Muito bom o texto e suas colocações maravilhosas.
Deus continue te abençoando e tenha um lindo final de semana na doce paz.
bj no ♥

Unknown disse...

O SENHOR É CONTIGO...A partir de hoje, Deus começa a mudar a sua vida
Diz o Senhor o Todo Poderoso:

“Eu te Abençoarei e te colocarei em uma terra produtiva,
próspera, terra q mana leite e mel”. Dt. 8
O Senhor te fará colher muitos frutos!
Crês Tu nessa profecia?”Há ainda semente no celeiro?
Nem a videira, nem a figueira, nem a romeira,
nem a oliveira têm dado os seus frutos;
Mas desde este dia vos abençoarei.” Ag. 2.19
A graça de Deus vai se manifestar.
Deus vai mandar chuva de bênçãos sobre a sua casa.
Um grande milagre vai acontecer. Confie!
Deus vai inundar sua família, seu trabalho,
seu negócio com muitas bênçãos.
O Senhor vai abrir as janelas do céu.
Levante a cabeça e receba a vitória.
A graça de Jesus é muito maior do que as lutas!
Ele abriu o mar, acalmou a tempestade,
curou paralítico e ressuscitou os mortos.
Seu Poder é o mesmo ontem, hoje e eternamente, creia,
FIQUE NA PAZ... Tenha Um Excelente final de semana!
Diacono Sergio

Anônimo disse...

Muito engraçada mas também verdadeira a sua "parábola"
Parabéns!

SOLDADO DO FOGO disse...

O texto é tão grande quanto o seu valor...heheheheh
Parabéns!

Tiago Scala disse...

Eu digo: Amém! Que Deus a abençoe. Vou seguir seu blog. Fique na paz!

Joyce Carolino disse...

Pastora!!

QUe benção nos encontrarmos. Obrigada por seguir meu Blog, já estou seguindo o seu!!

Amei tudo aqui, seus artigos são incrivelmente interessantes!!!

Que Deus continue te abençoando e capacitando a cada dia!!!

Você é um lindo canal de bençãos!!!

Bjo no coração!

Antônio Ayres disse...

Olá!

Obrigado pela visita ao meu blog. Retribuí e pude ver, por essa metáfora, que as palavras que me dispensou são uma realidade.

Que possamos crescer na Graça, olhando todas as coisas com os olhos de Jesus.

Em Cristo.

Regina Farias disse...

Muito interessante essa lúdica historinha que a princípio parece ser direcionada a crianças.
Inclusive você deve ter muita habilidade para lidar com educação infantil também.
E como em tudo que leio sempre tem uma frase que faz meus olhos brilharem mais e até as letras chacoalham rss nesse texto não foi diferente.
É essa aqui:
"Eu posso morrer pela verdade, mas não posso matar por ela".
Fica em mim a lição!
E que Deus continue te iluminando.
R.